OLHE À SUA VOLTA, HÁ UM GEÓLOGO
POR AÍ
No dia 30 de maio
comemora-se internacionalmente o Dia do Geólogo. Diferentemente de vários
países do mundo, onde a atividade profissional do Geólogo é já entendida em sua
enorme importância para o Homem, tem sido regra em nosso país que esse dia
passe praticamente despercebido pela sociedade, reflexo do ainda o precário
conhecimento que esta sociedade tem sobre a atividade de seus geólogos.
Dia do Geólogo
Diga-se a bem da verdade
que esse relativo desconhecimento deve-se em boa parte aos próprios geólogos,
em geral mais afeitos a seus círculos profissionais específicos e restritos e
despreocupados em dialogar mais abertamente com a sociedade sobre as importantíssimas
questões com as quais trabalha.
Simplificadamente,
podemos dividir em três grandes planos a atividade profissional do Geólogo,
todos eles, como se verá, com estreita relação com o cotidiano e com a
qualidade da vida humana no planeta: Fenômenos Geológicos Naturais, no âmbito
do qual o Geólogo investiga fenômenos associados à dinâmica geológica do
planeta, como terremotos, maremotos, vulcanismos, variações térmicas
planetárias e suas conseqüências, processos regionais de desertificação,
escorregamentos e avalanches naturais em regiões serranas, etc., definindo
cuidados e providências que devam ser tomados pelo Homem para evitar ou reduzir
ao máximo os danos que esses fenômenos possam causar;
Exploração de Recursos
Minerais, plano em que o Geólogo estuda a formação de jazidas minerais de
interesse do Homem (ferro, manganês, cobre, carvão mineral, petróleo, água
subterrânea, urânio, alumínio, areia e brita para construção, argila para
cerâmica, etc., etc.), localiza-as na Natureza, avalia-as técnica e
economicamente e planeja, juntamente com o Engenheiro de Minas, sua exploração
e posterior recuperação ambiental da área afetada; Geologia de Engenharia,
dentro do qual o Geólogo estuda as interferências do Homem sobre o meio físico
geológico.
Dentro desse plano é
importante entender que, para o atendimento de suas necessidades (energia,
transporte, alimentação, moradia, segurança física, saúde, comunicação...), o
Homem é inexoravelmente levado a ocupar e modificar espaços naturais das mais
diversas formas (cidades, agricultura, indústria, usinas elétricas, estradas,
portos, canais, extração de minérios, disposição de rejeitos ou resíduos
industriais e urbanos...), o que já o transformou no mais poderoso agente
geológico hoje atuante na superfície do planeta.
Pois bem, caso esses
empreendimentos não levem em conta, desde seu projeto até sua implantação e
operação, as características dos materiais e dos processos geológicos naturais
com que vão interferir e interagir, é quase certo que a Natureza responda através
de acidentes locais (o rompimento de uma barragem, o colapso de uma ponte, a
ruptura de um talude, por exemplo), ou graves problemas regionais (o
assoreamento de um rio, de um reservatório, de um porto, as enchentes e
escorregamentos urbanos, a contaminação de solos e de águas superficiais e
subterrâneas, por exemplo), conseqüências todas extremamente onerosas social e
financeiramente, e muitas vezes trágicas no que diz respeito à perda de vidas
humanas.
Enfim, mesmo com a
abdicação do consumismo tresloucado e do crescimento populacional
descontrolado, a epopéia civilizatória de chegarmos a uma sociedade onde todos
os seres humanos tenham uma vida materialmente digna e espiritualmente plena,
exigirá, sem dúvida, a multiplicação de empreendimentos humanos no planeta:
exploração mineral, energia, transportes, indústrias, cidades, agricultura,
disposição de resíduos...
A Geologia é uma das
ciências sobre as quais recai a enorme responsabilidade de tornar essa
maravilhosa utopia técnica e ambientalmente possível, sem que a própria
possibilidade da vida humana no planeta seja comprometida.
Conclui-se, assim, que
para se assegurar que a Humanidade tenha um futuro promissor e pleno de
felicidade em seu planeta faz-se cada vez mais imprescindível conversar com a Terra.
Para esse diálogo, os homens têm seu inspirado intérprete: o Geólogo.
De outra parte, a
Geologia é uma geociência maravilhosa. E seu caráter maravilhoso liga-se à sua
intrínseca relação com o movimento (Movimento = Tempo + Espaço). O sentido
maior da Geologia é apreender o movimento, os processos que definiram, definem
e definirão o Planeta e seus fenômenos. O fator Tempo pode ser também
importante em outras profissões, mas na Geologia é a variável permanente e
onipresente em todas suas equações.
Dentro desse espírito, é
justo rendermos um tributo ao Geólogo escocês James Hutton, que ao final do
séc. XVIII, pela primeira vez rompeu documentadamente e corajosamente com os
estreitos tabus e dogmas religiosos da época, para os quais o mundo atual era exatamente
aquele criado por Deus, cunhando (o Geólogo inglês Charles Lyell logo em
seguida deu primorosa e enérgica seqüência à sua teoria) as bases da teoria do
Uniformitarismo ("o Presente é a chave do Passado"), a qual, por
sinal, Darwin, dando todos os créditos a Lyell e Hutton, aplicou ao mundo
Biológico.
Dizia Hutton:
"Desde o topo da montanha à praia do mar...tudo está em estado de mudança.
Por meio da erosão a superfície da Terra deteriora-se localmente, mas por
processos de formação das rochas ela se reconstrói em outra parte.
A Terra possui um estado
de crescimento e aumento; ela tem um outro estado, que é o de diminuição e
degeneração. Este mundo é, assim, destruído em uma parte, mas renovado em
outra".
Ao Geólogo, portanto,
com todo o merecimento, cabem as honras e homenagem por mais esse aniversário
de sua tão bela profissão.